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O Futuro Depende da nossa Capacidade de Adaptação: Agricultura de Conservação
06/07/2021
A Agricultura de Conservação é um sistema de técnicas agronómicas que tem por principal objetivo conservar o solo, reduzir o impacto dos fenómenos erosivos que levam à perda de terras aráveis e promover a melhoria das condições do solo.

O termo “Agricultura de Conservação” surgiu nos Estados Unidos da América, na sequência de um fenómeno devastador denominado Dust Bowl. Na década de 1930, este acontecimento provocou graves danos económicos e ambientais nas planícies do centro do país, devido à erosão provocada pela ocorrência de ventos fortes em áreas de cultivos de cereais de sequeiro, onde práticas sucessivas de mobilização intensa dos solos eliminaram a cobertura vegetal do solo e levaram a anos de seca. Os solos nus e secos, a fragmentação das partículas e os ventos fortes deram origem a grandes nuvens de poeira, que devastaram vastas regiões durante anos, causando a morte de pessoas e animais. 

     

Este fenómeno veio contrariar a ideia vigente na época de que o solo era um recurso indestrutível, imutável e inesgotável.  Foi necessário abandonar as técnicas de preparação do solo profundas e constantes, e conceber novas formas de preparação e cultivo, por forma a garantir a recuperação dos solos degradados e a subsistência alimentar de grande parte da população norte-americana.

Na Europa é na Península Ibérica que se regista o maior risco de erosão dos solos, com mais de 80% dos solos com risco elevado ou moderado de erosão.  Estima-se que a taxa média de erosão seja de 17 toneladas por hectare por ano, superando, nas zonas mais afetadas, valores de 20 a 40 toneladas de solo por hectare após uma chuvada. Estes valores superam largamente a taxa média de formação do solo, que é estimada em cerca de 1 tonelada por hectare por ano.

Além da erosão, existem outros fatores que levam ao empobrecimento do solo: a perda de fertilidade, a redução de matéria orgânica, a alteração da estrutura do solo, a redução da porosidade e da capacidade de armazenamento de água.

A Agricultura de Conservação visa inverter todos estes processos de degradação do solo, procurando melhorar a fertilidade e a produtividade, através da melhoria das suas características físicas (estrutura do solo), químicas (teor de matéria orgânica e disponibilidade de nutrientes, retenção de carbono) e biológicas (promoção de condições favoráveis para os organismos do solo).

De acordo com a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, a Agricultura de Conservação baseia-se em três princípios fundamentais: a perturbação mínima do solo, a manutenção de cobertura do solo e a diversificação ou rotação de culturas.

 
Perturbação mínima do solo: sementeira direta ou mobilização mínima 

Na natureza a vegetação desenvolve-se com vigor em terrenos que nunca foram mobilizados. É com base neste princípio que surgiu o conceito de sementeira direta, técnica em que se recorre a um semeador desenvolvido para este fim, que corta os resíduos existentes na superfície do solo e abre um sulco, com secção e profundidade suficientes para nele se depositar a semente e o adubo necessário, e de seguida tapar a semente. Ou seja, apenas a linha da sementeira é mobilizada mecanicamente pelo semeador, de forma muito superficial. 

Outro método são os sistemas de mobilização mínima ou de mobilização na linha, com a utilização de alfaias – escarificadores – que apenas fazem uma mobilização vertical do solo, sem reviramento das suas camadas horizontais e sem incorporação dos resíduos superficiais da cultura anterior. Assim, consegue-se manter inalterável grande parte da estrutura do solo, manter a cobertura de resíduos, reduzir a erosão, evitar as alterações bruscas de temperatura no solo e contribuir para o aumento do teor em matéria orgânica.

Conservation Agriculture in Developing Countries: The Role of Mechanization 1 - Scientific Figure on ResearchGate. Available from: https://www.researchgate.net/figure/No-till-direct-seeding-into-heavy-residue-mulch-Nicaragua-foto-Friedrich_fig3_260387802 [accessed 6 Jul, 2021]
 
Manutenção de cobertura no solo

A manutenção de uma cobertura do solo, seja pela existência de vegetação ou pela manutenção de resíduos vegetais de culturas anteriores, permite maior proteção do solo contra a erosão hídrica e eólica, reduz a escorrência superficial, fornece nutrientes ao solo e aumenta a sua humidade, ao promover uma maior infiltração de água e reduzir a taxa de evaporação.

Esta medida aplica-se tanto em culturas temporárias, no espaço de tempo entre diferentes cultivos, como em culturas permanentes (pomares ou florestas) com a manutenção de cobertura nas entrelinhas.

© R | R | RUFINO
 
Diversificação e rotação de culturas

O objetivo é diversificar o número de espécies de plantas, no tempo ou no espaço, com o propósito de criar multifuncionalidade nas explorações agrícolas. No caso de cultivos com uma só espécie em cada parcela, não se deverá repetir a mesma cultura sucessivamente no mesmo local, para evitar o estabelecimento de agentes patogénicos específicos para a espécie cultivada.

A diversidade de culturas favorece a interação entre os microrganismos presentes no solo, a interação entre plantas, e facilita o controlo de pragas e doenças.  É recomendada a utilização de, no mínimo, 3 culturas diferentes.

     

© CIMMYT                                                                                                                                                                                                                                          © T. Samson/CIMMYT 
 
 
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